Sorrisos

Acorda de manhã estremunhada e não sabe o que irá fazer com toda aquela tristeza que se abateu sobre si na noite anterior. Está zangada, mas ninguém pode ser considerado culpado senão ela mesma, e a facilidade com que se deixa cair das nuvens.
Acorda de manhã e está sózinha num quarto que não lhe pertence, numa terra que não é a sua. Olha à sua volta com receio do desespero. Liga o rádio numa tentativa de se abstrair de pensamentos menos alegres. A voz que o rádio cospe, invade o silêncio e tira-a do torpor em que se encontra, revolvendo-lhe o cabelo enquanto se movimenta.
Irritada, pensa que nada daquilo vale a pena, que tem de continuar a viver ainda que a vida não pareça ter sentido. E levanta-se...
A manhã já começou há muito e ela esteve sempre a dormir, numa vã tentativa de não pensar, de não sentir. Dispersa-se pelas actividades matinais e quando decide mergulhar nos seus pensamentos, enquanto lava a alma e o corpo desnudados, ouve ao longe um toque...
O teu toque, o toque de todos os sorrisos...